Entrevista da Psicopedagoga Selma Daltro ao Programa Acorda Cidade
Têm sido cada vez mais altos os índices de alunos que fazem recuperação, sistema que visa evitar a reprovação dos estudantes que não conseguem atingir a média estabelecida pela escola durante o ano letivo. Para a psicopedagoga Selma Daltro, a prática tem se tornado uma verdadeira fábrica de dinheiro para as escolas, que valorizam mais a produtividade do que a qualidade. Durante entrevista ao programa Acorda Cidade, ela criticou a idéia de destacar "os melhores", condenando os demais ao fracasso.
"E os que não aparece nos outdoors, onde estão?", questionou a psicopedagoga, ressaltando que é " muito fácil lidar com quem é bom, é produtivo" e que a partir do resultado do Enem haverá uma proliferação desse tipo de publicidade, com a lista "dos melhores". Selma disse que a questão da recuperação é muito séria, principalmente na rede particular de ensino. "O que vemos é uma grande fábrica de dinheiro para pagar 13º salário de professor, para ter destaque na produtividade", frisou.
Defendendo a abertura do debate sobre o novo papel da escola, Selma Daltro afirmou que um aluno que fica em recuperação de dez disciplinas não pode ter, de repente, um desempenho suficiente para passar de ano e deixou claro que não há preocupação por parte das escolas. "Se pegarmos os conteúdos estudados hoje são os mesmos que estudamos no passado. O perfil do aluno mudou e as escolas estão negando esta realidade", observou.
A psicopedagoga avaliou que o momento vivido pela Educação em Feira de Santana, na Bahia e no Brasil é histórico e marcado por turbulências. "É preciso pensar o papel da escola, principalmente a escola privada, que ainda cultua a figura do herói, daquele aluno que tem sucesso em várias universidades", defendeu, conclamando os pais a participarem dessa discussão e questionando "até que ponto a nossa escola está contribuindo para formar uma sociedade mais justa, mais igualitária".
Selma Daltro disse ainda que não dá mais para "viver no século passado", pois hoje, com a rede de comunicação interligando o mundo, o perfil do aluno é outro, enquanto a escola continua exaltando os melhores, trabalhando com a competição. Ela enfatizou "que muitas escolas acreditam que têm todas as respostas e certezas" e transmitem a idéia de que "não estar nos outdoors é sinônimo de fracasso". A psicopedagoga defendeu uma postura educacional com "menos economia e mais produção de valores".
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