segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Recuperação é fábrica de dinheiro para escolas

Entrevista da Psicopedagoga Selma Daltro ao Programa Acorda Cidade

Têm sido cada vez mais altos os índices de alunos que fazem recuperação, sistema que visa evitar a reprovação dos estudantes que não conseguem atingir a média estabelecida pela escola durante o ano letivo. Para a psicopedagoga Selma Daltro, a prática tem se tornado uma verdadeira fábrica de dinheiro para as escolas, que valorizam mais a produtividade do que a qualidade. Durante entrevista ao programa Acorda Cidade, ela criticou a idéia de destacar "os melhores", condenando os demais ao fracasso.

"E os que não aparece nos outdoors, onde estão?", questionou a psicopedagoga, ressaltando que é " muito fácil lidar com quem é bom, é produtivo" e que a partir do resultado do Enem haverá uma proliferação desse tipo de publicidade, com a lista "dos melhores". Selma disse que a questão da recuperação é muito séria, principalmente na rede particular de ensino. "O que vemos é uma grande fábrica de dinheiro para pagar 13º salário de professor, para ter destaque na produtividade", frisou.

Defendendo a abertura do debate sobre o novo papel da escola, Selma Daltro afirmou que um aluno que fica em recuperação de dez disciplinas não pode ter, de repente, um desempenho suficiente para passar de ano e deixou claro que não há preocupação por parte das escolas. "Se pegarmos os conteúdos estudados hoje são os mesmos que estudamos no passado. O perfil do aluno mudou e as escolas estão negando esta realidade", observou.

A psicopedagoga avaliou que o momento vivido pela Educação em Feira de Santana, na Bahia e no Brasil é histórico e marcado por turbulências. "É preciso pensar o papel da escola, principalmente a escola privada, que ainda cultua a figura do herói, daquele aluno que tem sucesso em várias universidades", defendeu, conclamando os pais a participarem dessa discussão e questionando "até que ponto a nossa escola está contribuindo para formar uma sociedade mais justa, mais igualitária".

Selma Daltro disse ainda que não dá mais para "viver no século passado", pois hoje, com a rede de comunicação interligando o mundo, o perfil do aluno é outro, enquanto a escola continua exaltando os melhores, trabalhando com a competição. Ela enfatizou "que muitas escolas acreditam que têm todas as respostas e certezas" e transmitem a idéia de que "não estar nos outdoors é sinônimo de fracasso". A psicopedagoga defendeu uma postura educacional com "menos economia e mais produção de valores".