terça-feira, 8 de setembro de 2009

Falar sobre sexo no ensino fundamental não é cedo demais

A informação é crucial para a prevenção de doenças

Até a década passada, as aulas de educação sexual nas escolas para alunos acima de 14 anos, era uma evolução da sociedade e na educação formal dos adolescentes. Mas essa realidade mudou, e muito, em pouco tempo e cabe a todos refletir como fazer, o que falar, como agir para que essa criança seja orientada adequadamente a partir dos 8 anos.
Os números assustam:
1) Desde o primeiro caso de AIDS no Brasil (1982) até a mais recente publicação do boletim epidemiológico das DST/AIDS (Brasil, 2007) houve um aumento da infecção na faixa etária entre 13 e 24 anos (54.965 casos - 10.337 entre 13 e 19 anos e 44.628 entre de 20 e 24 anos);
2) Apesar de raro, o Hospital Pérola Byngton (em São Paulo) tem registro de dois casos por ano de câncer de mama, entre adolescentes, na faixa etária entre 13 e 16 anos;
3) Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2006) mostra que a única faixa etária que apresentou aumento da fecundidade foi a de 15 a 17 anos (6,9% em 1996, para 7,6%, em 2006). Nordeste aumento de 1,2%; Sul aumento de 0,9%; Sudeste - menor proporção de adolescentes com filhos (5,6%), metade do percentual da região Norte (11,2%). Pesquisa de Registro Civil do IBGE - 2007 mostrou queda na gravidez de adolescentes de 15 a 19 anos - de 20,5% em 2006 para 20,1% em 2007. Assim, em cada cinco gestantes, uma é menor de 20 anos;
4) Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz, uma em cada quatro adolescentes (25%) sexualmente ativas está contaminada pelo HPV, número que sobe para 40% após 5 anos de vida sexual ativa. No Rio de Janeiro, segundo dados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 30% das mulheres sexualmente ativas carregam o vírus de HPV. Entre as adolescentes, esse número sobe para 50%.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (de 1990), em seu artigo 2º, considera-se criança, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes entre 12 e 18 anos de idade.
Já o conceito de puberdade, caracterizado pela presença de caracteres sexuais secundários compatíveis com determinados parâmetros (escala de Tanner), que em 1990 acompanhava o padrão da adolescência, vem apresentando, nos últimos 20 anos, uma antecipação importante. Hoje, considera-se a puberdade precoce em meninas antes dos 8 anos de idade (até 9 anos é normal) ou em meninos antes dos 9 anos (até 10 anos é normal). Sendo que em 95% das mulheres o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários ocorre entre 8,5 e 13 anos.
Cada vez mais, temos doenças de adultos aparecendo em crianças (obesidade, diabetes, hipertensão e alterações de colesterol e triglicérides). Esse assunto começa a gerar uma conscientização para uma mudança de comportamento (ainda não tão eficaz quanto o desejado), provocada pela antecipação de situações que antes só víamos mais tardiamente. Nossas crianças estão amadurecendo física e hormonalmente sem um suporte educacional, psicológico e até familiar adequado que permita que elas não "adoeçam" precocemente.
E essas "doenças" (gravidez na adolescência, HPV, câncer de mama, entre outras) trazem consigo, não só conseqüências individuais, mas carregam problemas sociais importantes, já comprovados por estudos como abandono precoce de escola (25% temporariamente e 17,5% de forma definitiva), risco de desemprego (70% - segundo a Fundação Oswaldo Cruz), mudança social, riscos de morte (parto e abortamento provocado em adolescentes) e de câncer (mama e colo de útero).
Até quando vamos esperar para tomar medidas mais eficientes e preventivas?
Poucas iniciativas isoladas começam a aparecer, mas sem grande abrangência. Por exemplo, podemos citar a vacinação contra HPV, para ser aplicada no sexo feminino, entre os 9 e os 26 anos de idade. Mas essa vacina ainda é muito cara e inacessível à maioria das jovens (três doses ao custo de cerca de R$ 300 a R$ 400,00 por dose).
Temos que investir na educação, na promoção à saúde. Prevenir ainda continua sendo melhor (mais barato e mais produtivo) do que remediar. Mas como agir? Quais as estratégias mais adequadas?
Não há como atingir as metas desejadas sem a participação de todos:
- Do governo: através de programas educativos, de acesso facilitado a bons serviços de saúde adequados, conforme estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);
- Da escola: pela orientação sexual e de saúde, tanto para os professores quanto para os alunos
- Da sociedade: na fiscalização dos objetivos propostos;
- Da mídia: com campanhas educativas, evitando a erotização precoce das crianças;
- Dos pais e familiares: na abordagem mais aberta e acolhedora de seus filhos;
- Dos profissionais de saúde: com um preparo mais apropriado na orientação desse grupo de pacientes (por exemplo, pediatras orientando vacinação, cuidados de higiene, auto-exame de mamas e até anticoncepção);
- Dos próprios adolescentes: que não sejam apenas os receptores de toda essa informação, mas também agentes dessa mudança.
A idade mais adequada para essa informação e a metodologia aplicada ainda precisam ser mais aprofundadas, mas a hora é agora!

Dr. Moises Chencinski é médico pediatra e homeopata, autor dos livros "Homeopatia- mais simples do parece" e "Gerar e Nascer um canto de amor e aconchego": www.doutormoises.com.br

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